quinta-feira, 26 de maio de 2011

Escrever é melhor que falar para desabafar as mágoas

Está fortemente marcado na cultura popular a ideia de que se uma pessoa estiver angustiada com algum problema o mais apropriado é contar o problema pra alguém de confiança (amigo, familiar, psicoterapeuta, etc.) na busca de um mínimo de catarse. O que menos importa é se o outro pode ou não nos aconselhar: precisamos do alívio de ver nos olhos de outra pessoa e de compartilhar nossa dor. Em diversas pesquisas constata-se que a grande maioria de pessoas acha que falar com alguém sobre algo traumático ajuda a suportar a dor com mais estoicismo. Mas até onde isto é verdadeiro?


Em um estudo realizado em 2005, Emmanuelle Zech e Bernard Rime, da Universidade de Louvain na Bélgica, trataram de pesquisar pedindo a um grupo de pessoas que selecionassem uma experiência negativa do passado. Concretamente a pior experiência negativa que tivessem passado na vida, uma na qual ainda pensassem e precisassem falar sobre o assunto. Já dá pra imaginar a classe de temas que surgiram: mortes, abusos, doenças, divórcios, etc.

Metade do grupo teve que conversar sobre o acontecimento com um especialista compassivo. A outra metade limitou-se a falar sobre um tema mundano: um dia típico de um assunto sem nenhuma importância.

Após uma semana, e de novo depois de dois meses, todos voltaram ao laboratório e responderam questionários que mediam seu bem-estar emocional. Os participantes que tinham falado de acontecimentos traumáticos pensavam que a conversa tinha ajudado. No entanto, os diferentes questionários contavam uma história diferente: em realidade, a conversa não teve nenhum impacto significativo. Os participantes acreditavam que era bom compartilhar suas experiências negativas, mas, em termos de utilidade para sobrelevá-las, não fazia diferença alguma se estivessem conversando sobre um assunto sem importância.

Resultados muito diferentes foram obtidos graças à "escrita expressiva". Há diversos estudos nos quais foram solicitados às pessoas que escrevessem em forma de diário seus pensamentos e sentimentos mais profundos com respeito a um acontecimento traumático. Por exemplo, em um trabalho intitulado Expressive Writing and Coping with Job Loss os participantes tinham que escrever sobre seus sentimentos após ter perdido o trabalho que permitiu chegar a seguinte conclusão:

Desde uma perspectiva psicológica, falar e escrever são duas coisas muito diferentes. Falar, às vezes, é uma atividade pouco estruturada, desorganizada, inclusive caótica se não conseguimos concatenar nossos sentimentos com o que desejamos expressar. Pelo contrário, escrever anima à criação de um argumento e uma estrutura que ajuda a dar sentido ao fato e nos dirige a uma solução. Em resumo, falar pode acrescentar confusão, enquanto escrever proporciona um enfoque mais sistemático, mais centrado na solução.

Por isso da próxima vez que precisar desabafar, ao invés de falar com alguém, escreva (vale digitar) tudo o que está sentindo, arrume um pseudônimo (ou não) e envie para nós; se a história for interessante eu juro que publicamos. Será que funciona?

Leia mais em: www.mdig.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails