quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Até que ponto o nome pode condicionar a nossa vida?

Sempre fomos especialmente cruéis com nossos colegas de escola se estes tinham nomes que eram fáceis de parodiar. Ana banana, João mijão, Zé picolé... uma infinidade de nomes que podem ser rimados, originam algum apelido detestado que pode nos acompanhar por toda a vida. O nome em si navega por uma dinâmica de fluídos físicos, históricos e psicológicos, de modo que ser batizado com um ou outro nome, na maioria dos casos, impõe um estereótipo que poderá nos acompanhar para sempre.

Nesse sentido, existe uma lei que determina que os oficiais de cartório não devem registrar crianças com nomes que podem expô-las ao ridículo ou a situações humilhantes. Mas não proíbem, por exemplo, o registro de nomes que possam induzir a um erro no sexo ou nomes estrangeiros. Ou seja, hoje em dia não se registra ninguém como Umdoistrês de Oliveira Quatro, mas é possível encontrarmos nomes tão ridículos como Wandercleysson Uóshington da Silva. Existe até um gerador de nome de pobre na rede que brinca com este fato.

A escolha de um nome possui tanta informação sobre seu lugar de procedência, sua classe social e até sua popularidade relativa que não resulta difícil adivinhar a idade aproximada de uma mulher simplesmente atendendo a seu nome. Conquanto muitas sociedades batizam as crianças com o nome de algum antepassado ou algum santo, sempre existe uma mudança baseada na época e nas modas vigentes, tal e qual aponta o psicólogo cognitivo Steven Pinker ao referir aos nomes da moda dos Estados Unidos:


As Edna, Ethel ou Bertha são senhoras idosas; as Susan, Nancy ou Debra são as integrantes do baby boom entrando na terceira idade; as Jennifer, Amanda ou Heather andam pelos 30; e as Isabella, Madison ou Olivia são ainda meninas.

No contexto brasileiro, segundo a Certifixe, que reúne 19 cartórios em todo o Brasil, a tríade Maria, Ana e João segue imbatível conforme seu ranking dos 30 nomes mais comuns no país:
  1. Maria
  2. Ana
  3. João
  4. Matheus
  5. Pedro
  6. Gabriel
  7. Luiz
  8. Gustavo
  9. Guilherme
  10. Júlia
  11. Kauã
  12. Lucas
  13. Luís
  14. Mariana
  15. Nicolas
  16. Rafael
  17. Vinícius
  18. Daniel
  19. Felipe
  20. Gabriela
  21. Kaíque
  22. Samuel
  23. Bruno
  24. Filipe
  25. Francisco
  26. Gabrieli
  27. Giovanna
  28. Luan
  29. Miguel
  30. Victor

Uma recente pesquisa realizada pela Universidade de Oldenburg, Alemanha, mostrava uma lista de nomes próprios associados a preconceitos negativos e outra relacionada com preconceitos positivos. O estudo que foi dirigida pela professora Astrid Kaiser sugere que o nome próprio de um aluno influi muito em suas qualificações escolares.

Obviamente, esta influência só é percebida nas qualificações baseadas no critério do professor, não em qualificações objetivas, como as que se extraem de uma prova de Matemática, onde 2 + 2 sempre será 4.

No estudo, os exames de 12 crianças foram fotocopiados e enviados a 200 professores diferentes a fim de que fossem qualificados. Cada trabalho devia ser qualificado por dois professores diferentes. Os exames só tinham uma diferença: ou estava assinado por um nome de carga conotativa positiva ou por um nome de carga conotativa negativa. Na Alemanha, nomes como Kevin, Mandy ou Cedric estão relacionados a estratos sociais inferiores; pelo contrário, nomes como Maximilian, Jakob ou Simon estão relacionados às camadas sociais superiores.

E a norma cumpriu-se escrupulosamente nos resultados: os trabalhos assinados por nomes como Maximiliam ou Simon foram melhor qualificados que os assinados por Kevin ou Mandy, apesar de que o conteúdo do texto era exatamente o mesmo.

Simplesmente, o professorado não conseguiu evitar que uma parte automática, inconsciente de si mesmos aplicasse um verdadeira discriminação ao exame. Contudo, as diferenças de qualificação só se observaram nos nomes masculinos, entre Kevin e Maximilian, por exemplo, e não entre Celine e Charlotte, o que denota, segundo a professora Kaiser, que os homens sofrem mais discriminação porque acredita-se que tenham tendência a ser mais inquietos e romper mais facilmente as regras. Pelo contrário, as garotas têm uma imagem de menos revoltadas, mais serenas, menos conflitivas, de modo que existe menos discriminação com elas.

Esta tendência também se observa nos colégios de elite em comparação com os colégios dirigidos às classes mais baixas. Na Alemanha, as crianças de classe mais alta e com um rendimento escolar mais elevado vão ao chamado Gymnasium -a maioria de seus alunos acabará na Universidade-; já as crianças de menor nível cultural e que necessitam de algum tipo de ajuda social vão ao chamado Hauptschule -a maioria de seus alunos acabará desempenhando trabalhos de pouca especialização ou baixa remuneração-.

Pois bem, o nome de Kevin (baixa camada social) aparece exclusivamente nas listas de estudantes procedentes do Hauptschule, mas não do Gymnasium. Pelo contrário, nomes femininos associados a preconceitos negativos como Vanessa ou Jaqueline sim aparecem indistintamente no Hapstschule e no Gymnasium.

Este estudo talvez (e somente talvez) seja um pouco anedótico, e a imposição de um ou outro nome tenha uma relevância que dificilmente possa ser medida. No entanto, valeria a pena agir com mais cuidado a próxima vez que nos aproximemos da pia batismal.

Meu sobrenome por exemplo não permite duvidar da nacionalidade, filho de um negão com uma italiana só poderia resultar no sobrenome da Silva, do qual me orgulho muito, mas sou obrigado a reconhecer que sofri algum tipo de preconceito uma e outra vez. A que mais me marcou foi a insistência da primeira cobra caninana sogra para que eu acrescentasse o sobrenome da minha mãe ao meu nome para que soasse mais aristocrático. Posso lembrar até hoje aquela jararaca destilando veneno para me convencer. Nunca consegui me recuperar... até hoje acordo em meio de pesadelos protagonizados pela desgraçada. emoticom

E você, tem alguma história para contar relacionada a seu nome ou sobrenome?

Fonte: mdig.com.br

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